domingo, 28 de junho de 2009

dia de domingo


e hoje nós trabalhamos!
é claro que não foi por pura falta do que fazer, mas por ausência absoluta de notas de 10 euros em nossos bolsos.
o restaurante já era conhecido do marido, afinal ele vai lá todos os dias da semana ganhar a baguete nossa de cada dia.
foi minha primeira vez do lado de lá da cidade, já que esse restaurante que a gente trabalhou fica em boulogne, ali, ao lado do bois de boulogne, um parque realmente enorme, que deve dar uns 20 parques municipais.
como a gente mora no leste, atravessamos minha querida paris e em 1 hora estávamos no restaurante jour de boulogne!
devo dizer que o dinheiro foi fácil, pois cliente mesmo não havia nenhum.
acabado o horário, direto pro quartier latin.

sério, nunca tinha ido, a não ser uma passadinha tímida num janeiro frio de uns anos atrás.
o passeio culminou no panthéon, que de tão impressionante, recebeu a nossa visita!
entramos por 8 euros per capita (ou seja, tudo o que havíamos ganhado no restaurante hoje) e logo soube de uma visita guiada, gratuita, rumo ao topo do panthéon!
a guia francesa, educada e sorridente (serão os efeitos do verão?), nos levou até uma escada de caracol e nos preveniu sobre possíveis vertigens.
a histeria já foi logo baixando em mim e quase ensaiei um possível desmaio, mas achei que era arte demais prum dia só.
do alto dele, paris é uma coisa de linda, sobretudo pelas chaminés vermelhas multiplicadas por mil.

depois descemos, demos um alô ao rousseau, ao voltaire, ficamos debatendo sobre o pêndulo de foucault (léon e não o outro) e fomos direto pro jardin de luxembourg, dar um rolé.
e que delícia de rolé!
flores, crianças brincando, casais se beijando, apresentação de coral, tudo que um belo domingo besta merece.

mas o que mais me impressionou de tudo isso, foi um mendigo que nós vimos em frente à sorbonne: sentado no chão, potinho de moedas à frente, meia dúzia de pertences sujos jogados à esquerda, e uma concentração absurda um em bom livro de literatura francesa.

isso é que é cultura!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

noite

são 21:51h e a luz parece interminável.
os dias são longos demais.
e a escuridão não chega nunca.
há uma maneira de acelerar o tempo?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

molloy, por samuel beckett

"não querer dizer,

não saber o que se quer dizer,

não poder dizer o que se acredita que se quer dizer,

e sempre dizer ou quase.

isto é importante não perder de vista,

no calor da redação."

as cidades

Acabamos de receber as primeiras visitas brasileiras aqui em casa! Além da alegria habitual das meninas, elas nos traziam, todos os dias, notícias da cidade onde moro agora. Através de suas narrativas diárias, pude conhecer um pouco do que é a Paris do turista. Talvez eu a conheça um dia, não sei.

Meu trajeto habitual tem sido da casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Trajeto feito de metrô, em que as marcas da cidade me chegam não pela quantidade de museus que eu (não) visitei ou pelos monumentos que eu (não) subi. O que tenho conhecido daqui são os níveis da temperatura, oscilantes e variantes, o corre-corre das pessoas de todo tipo nos metrôs e a intensidade da luz, que demora a se recolher, deixando os dias longos, lentíssimos... saudades do lado escuro da vida.

Todo dia alguém me pergunta se eu já fui ao museu X ou Y. Não fui, mas ainda vou, respondo. Um dia, eu vou, talvez. Essa urgência em conhecer uma cidade, que vem do outro, me fez pensar em BH.

Nunca fui ao museu Abílio Barreto, mas afirmo que minha cidade natal está em mim entranhada. Nunca estive no Barreiro e nem sei onde fica o bairro Camargos. Mas insisto em dizer que BH eu a sei de cor. E trouxe-a comigo.

Não conheço o Palácio da Liberdade por dentro e – pasmem – nunca entrei na Igreja da Pampulha. Mas conheço seus dias de céu claro e frios de junho, suas águas intermináveis de janeiro e o dia do meu aniversário, que há 12 anos é chuvoso.

Sei que BH nunca é muito fria ou muito quente, conheço aquela chuva de granizo que amassa o capô dos carros, sei bem de seus dias que parecem sempre começar e acabar à mesma hora. Conheço as flores da quaresmeira, que me chegam sempre após o carnaval, evento que deixa a cidade mais vazia e mais calma. Sei da loucura de se andar de carro pelo centro e a vontade enorme de atropelar uns 4 pedestres que forçam suas travessias. Sei dos gritos dos vendedores de passagens clandestinas na porta da rodoviária. Conheço o velhinho que sempre pede esmolas no mesmo sinal da av. Brasil, os malabaristas do sinal vermelho e os entregadores de planfetos, que te fazem voltar pra casa com mais de 7 propagandas de coisas que você nunca vai usar. Ouço sempre o amolador, que está na sua rua e amola facas, tesouras e alicates de unha. Conheço o postinho d’A Obra, que é point só porque todos os meus amigos estarão lá às 2 da manhã pra discutir pra onde ir e não ir a lugar algum. Minha família e meus amigos estão em BH e nós adoramos dizer que a cidade é um ovo, que todo mundo se conhece e, assim, ignoramos as mais de 2 milhões de pessoas que também moram lá e que talvez nunca as vamos conhecer. O que conheço da cidade que deixei foi construída a partir da minha rotina e dos meus caminhos, feitos de medos e de desejos. Essas são as referências de BH que procuro fixar, pois talvez um dia seja preciso refazer meus passos, nunca se sabe.

Por isso, BH pra mim é pequena, composta somente de algumas ruas da zona sul e de outras, de pessoas que eu gosto e de outras. Minha cidade é pequena demais e não sei se algum dia irei conhecê-la para além do que ela me é hoje.

O que sei, por hora, é que esta outra, que estou agora, terá o tamanho das minhas ilusões.

domingo, 14 de junho de 2009

pedalando


as vélib's chegaram na porta da minha casa! agora posso trabalhar de bike todos os dias!

o vélib é um sistema parisiense de aluguel de bicicletas que custa somente 1 euro por dia!

para usá-lo, basta ter um cartão de crédito de chip, porque, além de 1 euro pelo aluguel, eles bloqueiam 150 euros no seu cartão caso você queria ficar com a bike pra você.

pra quem mora aqui, o bom mesmo é fazer um abonnement, ou seja, pagar o valor fixo de 29 euros por ano e pedalar quantas vezes quiser.

em paris, existem mais de mil estações de vélib espalhadas e você encontra uma a cada 300m.

como paris é plana, pedalar é ótimo para conhecer a cidade, gastar menos dinheiro, não enfrentar o cheiro dos metrôs e ainda se exercitar.

mas fique atento: a manota no trânsito, que consiste em não parar no sinal vermelho ou pedalar nos passeios, pode te custar 80 euros.
pra saber mais, acesse: http://www.velib.paris.fr/

quarta-feira, 10 de junho de 2009

a dança, a alma, carlos et edgar




o velho drummond e degas, que eu descobri dia desses no orsay.


A dança? Não é movimento,
súbito gesto musical
É concentração, num momento,
da humana graça natural.
.
No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança - não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.
.
Um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...
.
Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir a forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.
.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

sobre eles

  • Os franceses não são exatamente mal educados, mas sérios.
  • Muitos franceses são cheirosos, o problema é que eles usam a mesma blusa várias vezes na semana.
  • Os franceses não sabem lidar com o imprevisto. Uma situação nova é vista por eles como uma tarefa impossível de ser realizada. Mas vale insistir.
  • Os franceses sempre reivindicam, mesmo quando não tem razão. Mas eles acham que sempre tem razão.
  • Os franceses são racionais e práticos. Nada de sentimentalismos ou argumentos vagos.
  • Os franceses caminham rapidamente pelos corredores dos metrôs.
  • Os franceses sabem o que querem. Deixá-los com ódio mortal significa demorar a escolher o prato no restaurante ou qual cor de saia vai levar.
  • Pardon é a palavra mais usada nas ruas.
  • Os franceses tem um senso estético incrível. Seja para roupas, apresentação de um prato, obras de arte ou vitrines de lojas e doces.
  • Os franceses, infelizmente, não curtem o famoso "jeitinho". Se não pode, não pode. E fim de papo.
  • Os franceses acreditam na palavra do outro. Se você diz ter 26 anos na entrada do museu, você tem 26 anos, sem ter que mostrar identidade (os menores de 26 não pagam um monte de coisas legais!).
  • Os franceses falam bem a sua língua. E esperam que você faça o mesmo. Sem nós vai e nós fica.
  • Os franceses acham que nós brasileiros falamos espanhol. E adoram gastá-lo com a gente.
  • Os franceses lêem o tempo todo no metrô. Mesmo que seja em pé. E o silêncio é sepulcral.
  • Os franceses amam um rendez-vous. Não marcou um, não tem conversa.
  • Dependendo do tom, je suis désolé pode significar de sinto muito a foda-se seu.