quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

lata de sardinha


8 da manhã, estação Saint-Lazare da linha 13 do metrô. Antes mesmo de chegar na plataforma do trem, fiscais avisam: "favor aguardarem uns instantes". Acidente, problemas técnicos, alguém passando mal? Enquanto esperamos, mais e mais pessoas chegam e se acotovelam nos estreitos corredores. Tudo, claro, acompanhado de um quase inaudível "pardon".
Vejo que o fiscal se mexeu - oba, ele vai nos liberar! Aberta a porteira, a boiada corre rumo aos vagões lotados do trem que acaba de chegar na estação. Nada de acidente, nada de problema técnico: a linha 13 é essa "dilícia" todos os dias. As pessoas se empurram quase imperceptivelmente, e quando os olhares se cruzam, a desculpa salta: não fui eu, foi o cara aqui do lado. Pra entrar no vagão, aquele drama. O calor lá dentro se contrasta com os -2 do lado de fora.
A hora passa, vou chegar atrasada na minha aula, hoje tenho prova, ai, é melhor entrar assim mesmo. Entro e mais gente entra e todo mundo começa a suar, a franzir a testa, a dizer uh-lá-lá! De dentro, puxei assunto com a moça que me olhava fixamente. Dureza, disse. Ela concordou com olhar. Fora esse longo papo, ninguém mais deu uma palavra até o destino final. Silêncio, silêncio, mesmo quando o maquinista parava no meio do trilho escuro e dizia que era pra gente esperar ainda mais.
Sei lá, mas morando no exterior a gente sente umas saudades estranhas. Vontade que deu de mandar um "bora motô" ou "calma aí, gente", "vamo que vamo" e outras expressões que só a gente conhece. Mas me calei - atitude esperada - e fiquei pensando no circular que eu pegava voltando do ballet às 6 da tarde. Gritaria, empurra-empurra, calor de verdade, sovacos vencidos, síndrome da mão alheia, loucura. Transporte público é sempre transporte público!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

...

Na pirraça de te ter
Eu saquei a minha arma
Eu saquei a minha boca
Eu saquei a minha alma
Eu saquei a minha roupa
.
.
.
Mas você não sacou nada

terça-feira, 24 de novembro de 2009

ele chegou


esperava sua chegada há mais de 5 meses. sempre olhava no jornal pra ver qual seria o dia exato da colheita. dia 19, certo. as ruas ficaram plenas de gente, se empurrando nas calçadas frias com um copinho na mão. ele chegou, finalmente, mas... quanta decepção! beaujolais nouveau, o vinho do momento. provei e não gostei. ah! e nunca comprem um beaujolais que não seja do ano. é pior ainda...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

mais um ano

A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades - Nelson Rodrigues

de fernando pessoa

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo!

(mandado pela minha amiga lili, anteontem - bom pra me animar e me fazer tirar o(s) pé(s) do drama)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

o peso da saudade

Há dias vinha ensaiando entrar na farmácia da esquina pra descobrir, afinal de contas, quantos quilos tinha recebido desde minha chegada.
O espelho já não me deixava em paz, teimando em escancarar, todos os dias, o que eu vinha tentando escamotear.
Ontem resolvi entrar. Depois de me desfazer de umas 15 peças de um outono que já castiga, coloquei um pé na balança e respirei fundo. Coragem, disse-me alto.
Mas o pé que permanecia ainda no solo começou a me fazer pensar nas aventuras gastronômicas de outrora.
Sabia bem como tinha devorado potes de queijo branco com geléia de framboesa, croissants de manteiga, crepes de nutela, todos os tipos de queijo e intermináveis garrafas diárias de vinho do bom.
Fora isso, 7 meses sem ballet faziam me sentir muito empneuzada pra enfrentar uma balança.
Mas o ar de "anda logo, menina" da mulher da farmácia me fez subir com o outro pé. Quanta insensibilidade, pensei.
O papel com o resultado foi impresso. Ao lê-lo, pensei em como minha cidade me fazia falta. Pensei em como a ausência dos meus me deixava um pouco sem lugar. Pensei na falta que os meus queridos me fazem. Pensei na minha solidão, de cidade grande sem coração.
Li novamente o papel e vi que os 3 quilos e meio a mais eram a saciação de uma fome antiga. Fome de iguais.
Era o peso da saudade.

domingo, 1 de novembro de 2009

...

envelheço,
sofro.

há uma maneira de deter o tempo?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

língua

tento escrever
as palavras não me chegam.

obrigo-me a escrever
em vão...

meus pensamentos, como nomeá-los?

tento forjar um novo estilo
insígnias de um outro código.

mas como escrever, sendo esta língua estrangeira à mim?
como prosseguir, sendo, eu mesma, estrangeira de mim?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

atendendo à pedidos

sem flashes, por favor


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ladainha de outono

a algumas postagens atrás eu falava dos músicos do metrô, esses que ganham uma graninha debaixo da terra.

mas desde que as férias acabaram e os turistas se foram, um novo som ecoa pelos corredores frios dos metrôs.

(des)entoando uma melodia que se assemelha a uma ladainha, as mulheres muçulmanas, com suas burcas pretas e suas posições de penitência, invadiram as entradas, saídas e escadas dos metrôs pedindo dinheiro.

elas fecham os olhos, ficam de joelhos, mantém suas mãos em direção aos céus e pedem, pedem e pedem, dando um tom amargo e sofrido ao seu canto do desespero.

isso tem deixado os dias gélidos de outono ainda mais tristes...

s'iiiilllllll vous plait, mesdames et mesieurs, une pièce, s'iiiiiilllllll vous plait...

brevidades

1. Hoje a france telecom anunciou mais um caso de suicídio de um funcionário engenheiro. Com esse, já se somam 25, desde fevereiro de 2008.
2. O índice de criminalidade diminuiu na capital francesa em 30% em relação ao ano que passou. As delegacias registraram 19 roubos à mão armada. Em BH, o índice também diminuiu: foram registrados 1.027 assaltos, no mesmo período.
3. E mais um velhinho foi encontrado morto hoje em seu apartamento em estado de decomposição. Esse ano é o sexto velhinho encontrado morto há vários meses ou mesmo há vários anos (teve uma que morreu em 2006). Parece que nem mesmo o cheiro do cadáver em decomposição incomodava os vizinhos, que, incrivelmente declararam, em todos os casos, não terem sentido nem a falta e nem odores diferentes vindos do apartamento do esquecido falecido.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Paris, 15 de outubro de 2009

o serviço de metereologia informa:

4 degrés
couverture nuageuse
vent à 16km/h

sábado, 10 de outubro de 2009

rodin!



Já tinha ouvido falar várias vezes que o Museu Rodin não valia uma visita, a não ser pelos seus jardins. O Museu, que fica em um antigo hotel (Hôtel Biron) onde já moraram ilustres como Matisse, Cocteau e o próprio escultor, é pra mim deslumbrantemente belo. E dos dois lados.

Nos jardins, que foram reduzidos pela metade após uma reforma em 1910, se encontram umas 15 esculturas de Rodin. Para se ter acesso a elas, basta pagar 1 euro, ao contrário dos 6 cobrados para se visitar também o lado de dentro (e de graça no primeiro domingo do mês).

Mas o fato é que, se as "dicas" dizem que o museu vale à pena mesmo do lado de fora (onde está O Pensador), acrescento que o lado de dentro é magnífico. São 16 salas que abrigam umas tantas das 160 esculturas que o artista esculpiu em 77 anos de vida. Isso sem falar de uma sala dedicada a Camille Claudel, a louca, aprendiz da arte e do amor.

Virou meu museu preferido, pelo menos até o momento!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

de olhos bem abertos

Hoje descobri - pasmem - que a maioria dos restaurantes chineses de Paris não tem cozinha. Funciona mais ou menos assim: eles fazem todas as refeições listadas no cardápio em suas casas, congelam e levam pros restaurantes. Quando o cliente faz o pedido, eles descongelam a comida e voilà!

Saiu uma reportagem hoje falando sobre a falta de higiene dos restaurantes em geral e logo vi uma nota dizendo que não fiscalização da gororoba chinesa à domicílio. É bom lembrar, claro, que há uma exceção para os restaurantes maiores, situados em pontos nobres da capital.

Mas tem mais: como quase não japoneses em Paris, não se engane - como eu - indo a restaurantes chineses disfarçados de japoneses. Há vários restaurantes japoneses por aqui, mas raros são os autênticos, com sushi man de olhos pequenos e puxados e salmão pescado há pouco. A grande parte pertence a chineses ou pessoas de outras nacionalidades. Bom, para nós isso não é nenhuma novidade, vide restaurante japonês em BH e região. Mas aqui quem tem restaurante árabe é árabe, quem tem restaurante indiano é indiano e, portanto, quem tem restaurante japonês é chinês! :)

Minha elegante prof de francês me deu a dica: para encontrar os verdadeiros japoneses - entre restaurantes, lojas e salões para colocar tinta no cabelo - vá até a Rue Saint Anne, entre o Louvre e o Opéra Garnier. Preços inversamente proporcionais à abertura dos olhos do dono.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

catacumbas? só na foto

E por falar em sepultura, a ossada municipal de Paris foi fechada à visitação pública na segunda-feira. A origem das sombrias catacumbas parisienses remonta ao século VIII, onde estava localizado o antigo cemitério dos Inocentes. Depois de ter servido por mais de 10 séculos aos defuntos de toda Paris, esse antigo cemitério foi finalmente interditado pelo governo por ter se transformado em um verdadeiro foco de infecções e acabou se tornando este incrível depósito mórbido, porém elegante, de caveiras e ossadas. Hoje, após terem sido múltiplas vezes depredadas, as catacumbas só poderão ser vistas no olhar do fotógrafo Olivier Mériel, que as dedica uma exposição, nos convidando a descobrir uma outra relação com a morte.

domingo, 13 de setembro de 2009

textes pour rien - s. beckett

a vida é uma longa viagem.
destino: sepultura.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

sábado, 29 de agosto de 2009

delícias na tela



não deixem de ver:
1. whatever woks - o novíssimo do woddy allen, algo parecido com suas comédias de sempre. (sem ele no papel principal, mas vale o ingresso)

2. -haut ou up - não sei como será o título em português, mas é o melhor filme de animação dos últimos tempos! e em 3D! a história é de um velhinho, ex-vendedor de balões, que decide viajar pra américa do sul atachando milhares de balões na sua própria casa!

3. o profeta - o filme ganhou o grand prix no festival de cannes - retrata o universo carcerário

4. partir - uma história que lembra o filme infidelidade, pelo tema - mas jamais pelas cenas. partir é infinitamente mais belo.




segunda-feira, 24 de agosto de 2009

delírios e sonhos em Giverny






Dia desses conheci a casa onde morou Claude Monet durante 43 anos. Famoso por suas pinturas que retratam belos jardins, Monet não deixou por menos. Mandou construir uma casona e um jardim escandalosos na pequetita cidade de Giverny, além de um delicioso jardim de água! A casa, que se transformou em uma fundação (e cobra 6 euros a entrada), tem cômodos gigantescos e coloridos (destaque pra sala de jantar amarela), além de várias obras dele dependuradas nas paredes da sala de estar, trazidas especialmente do museu Marmottan Monet para uma temporada de visitas na casa. E como ele era um forte apreciador de arte japonesa, encontramos nas paredes dos outros cômodos mais de 40 estampas de Utamaro, umas 45 do Hokusai e outras tantas do Hiroshige, somando mais de 100 obras! Tudo à 88 km de Paris! Profitez-en!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

músicos do subsolo

Os metrôs parisienses são plenos de músicos ávidos para ganhar uma moedinha dos passageiros apressados. O clima que eles criam no subterrâneo nem sempre é agradável. Dos shows de rock às baladinhas espanholas, tem de tudo lá embaixo: instrumentos bizarros, vozes diversas, ritmos outros. Tem uns que a gente tem vontade de pagar para eles pararem de tocar, tamanha desafinação.
Mas outro dia soube que não é fácil virar músico de metrô. Na verdade, não é qualquer pessoa que pode simplesmente entrar e sair tocando. A Prefeitura de Paris faz uma audiência para aqueles que pretendem mostrar ao que vieram. Quem é aprovado recebe uma carteirinha: autorização fundamental que os permite tocar nos corredores -jamais dentro dos vagões. Ou seja, quem não tem carteirinha é ilegal e, geralmente, para ganhar uns trocados, eles entram nos vagões com um olho nos nossos bolsos, outro nos possíveis fiscais e nenhum no instrumento.
Dias desses entrou um sujeito cego mandando ver numa super homenagem ao Michael Jackson: com um karokê, ele cantava Thriller, numa voz sofrível e num inglês duvidoso. Apesar da falta de carteirinha, de visão e de afinação, esse moço cantava com a alma, querendo, sentindo. Acabou levando uma pá de moedinhas pra casa!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

justo agora?

hoje o dia está chuvoso e frio.

na volta do trabalho, um acontecimento assustador.
o maquinista parou o trem de repente.
ele forneceu as seguintes instruções no rádio: "parece que avistei algo caído na linha."
o desespero da voz do outro lado fez o maquinista largar seu posto e verificar o que era.
o algo era alguém.
tínhamos passado em cima de um corpo.
o maquinista nos anunciou: "uma pessoa faleceu. vamos todos descer calmamente por uma porta única."
a estação lotada de gente nervosa foi se esvaziando e minha sensação de bem estar de dia cumprido foi se esvaindo.
ouvi o comentário de um passageiro: "bah! bof! o cara resolveu suicidar justo agora? tenho pressa."
cheguei em casa faminta e vazia.

hoje o dia está frio.

domingo, 19 de julho de 2009

ela faz cinema

que lanterninha que nada! o lance é um rádio motorola usado para comunicar inícios e fins de sessões, eventuais problemas na imagem ou no som e pedidos de ajuda pra limpar uma infinidade de milhos de pipoca espalhados pelo chão.

depois de uma semana de pernas pro ar, vendo o mundo na horizontal e ensaiando um momento deprimido-contemporâneo, ganhei um novo emprego: agent cinéma!

trabalhar no cinema aqui tem umas vantagens e a melhor delas é poder assistir a todas as sessões de graça! e são 12 salas!

o trabalho é mais leve, o ambiente mais descontraído e tem balas de gelatina de tudo quanto é jeito!

o trabalho é temporário, mas a satisfação parece que vai durar!

sábado, 11 de julho de 2009

nicoletta ceccoli



a fernanda me deu de presente e eu me apaixonei de vez por elas!

nicoletta ceccoli é uma ilustradora italiana que faz gravuras muito fofas, muito intensas e muito profundas.

adoro e recomendo!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

boujour, madame seu marido

A França sempre me pareceu um lugar moderninho, vanguardista e avesso a caretices. Mas se tem um assunto que me intriga aqui é a troca de nomes que ocorre quando de um casamento civil. Explico: os cidadãos franceses possuem, geralmente, apenas dois nomes: um nome próprio e um sobrenome de família. Aliás, de família não, do pai (o Nome do Pai).

Quando há o casamento civil, a mulher obrigatoriamente perde seu sobrenome e passa a adotar o sobrenome do marido. Se ela, ao invés de retirar seu sobrenome, quiser somente acrescentar o do marido, pode, o que faz com que ela tenha dois sobrenomes, algo, inclusive, incomum por aqui. Caso haja separação, a mulher pode voltar a ter o sobrenome de seu pai ou, então, manter o do ex e acrescentar o sobrenome do próximo marido. Nesse caso, seu nome acaba se tornando um dossiê de sua relação amorosa.

Nós brasileiros somos famosos por aqui por termos inúmeros nomes e sobrenomes. O meu é composto por 4: um nome composto e um sobrenome duplo. Bom, ao me casar, optei por manter meu nome como está, ou seja, meu “nome de solteira”. Mas aqui na França eles parecem não entender essa escolha. Inúmeras vezes sou chamada pelo sobrenome do marido (e ezé dois) o que acaba me dando problemas quando alguém me manda uma carta somente com o sobrenome dele e não com o meu - eu viro a Madame Magalhães - , não tendo como provar que o destinatário da carta sou eu, que aquela encomenda é pra mim, que o seguro está no meu nome e etc.

Mas assustada mesmo eu fiquei hoje: ao sair da prefeitura com o meu documento de identidade estrangeiro pronto (e emitido por eles após uma pequena espera de 3 meses), percebi que pra eles eu tenho 4 sobrenomes e 2 nomes. E não adianta reclamar, pedir pra tirar, pedir pra trocar. Você é obrigada a ter o nome do seu marido no seu documento e pronto. E o sobrenome dele ainda vem primeiro que o meu: 2 sobrenomes do marido na primeira linha, 2 sobrenomes da minha família na segunda linha e meus 2 nomes próprios na terceira!

Pode?

domingo, 5 de julho de 2009

!

apaguem a rua
que a lua está linda!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

a sagração da primavera

uma coreografia muito forte e muito bonita, da espantosa pina bausch, que morreu ontem.

domingo, 28 de junho de 2009

dia de domingo


e hoje nós trabalhamos!
é claro que não foi por pura falta do que fazer, mas por ausência absoluta de notas de 10 euros em nossos bolsos.
o restaurante já era conhecido do marido, afinal ele vai lá todos os dias da semana ganhar a baguete nossa de cada dia.
foi minha primeira vez do lado de lá da cidade, já que esse restaurante que a gente trabalhou fica em boulogne, ali, ao lado do bois de boulogne, um parque realmente enorme, que deve dar uns 20 parques municipais.
como a gente mora no leste, atravessamos minha querida paris e em 1 hora estávamos no restaurante jour de boulogne!
devo dizer que o dinheiro foi fácil, pois cliente mesmo não havia nenhum.
acabado o horário, direto pro quartier latin.

sério, nunca tinha ido, a não ser uma passadinha tímida num janeiro frio de uns anos atrás.
o passeio culminou no panthéon, que de tão impressionante, recebeu a nossa visita!
entramos por 8 euros per capita (ou seja, tudo o que havíamos ganhado no restaurante hoje) e logo soube de uma visita guiada, gratuita, rumo ao topo do panthéon!
a guia francesa, educada e sorridente (serão os efeitos do verão?), nos levou até uma escada de caracol e nos preveniu sobre possíveis vertigens.
a histeria já foi logo baixando em mim e quase ensaiei um possível desmaio, mas achei que era arte demais prum dia só.
do alto dele, paris é uma coisa de linda, sobretudo pelas chaminés vermelhas multiplicadas por mil.

depois descemos, demos um alô ao rousseau, ao voltaire, ficamos debatendo sobre o pêndulo de foucault (léon e não o outro) e fomos direto pro jardin de luxembourg, dar um rolé.
e que delícia de rolé!
flores, crianças brincando, casais se beijando, apresentação de coral, tudo que um belo domingo besta merece.

mas o que mais me impressionou de tudo isso, foi um mendigo que nós vimos em frente à sorbonne: sentado no chão, potinho de moedas à frente, meia dúzia de pertences sujos jogados à esquerda, e uma concentração absurda um em bom livro de literatura francesa.

isso é que é cultura!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

noite

são 21:51h e a luz parece interminável.
os dias são longos demais.
e a escuridão não chega nunca.
há uma maneira de acelerar o tempo?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

molloy, por samuel beckett

"não querer dizer,

não saber o que se quer dizer,

não poder dizer o que se acredita que se quer dizer,

e sempre dizer ou quase.

isto é importante não perder de vista,

no calor da redação."

as cidades

Acabamos de receber as primeiras visitas brasileiras aqui em casa! Além da alegria habitual das meninas, elas nos traziam, todos os dias, notícias da cidade onde moro agora. Através de suas narrativas diárias, pude conhecer um pouco do que é a Paris do turista. Talvez eu a conheça um dia, não sei.

Meu trajeto habitual tem sido da casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Trajeto feito de metrô, em que as marcas da cidade me chegam não pela quantidade de museus que eu (não) visitei ou pelos monumentos que eu (não) subi. O que tenho conhecido daqui são os níveis da temperatura, oscilantes e variantes, o corre-corre das pessoas de todo tipo nos metrôs e a intensidade da luz, que demora a se recolher, deixando os dias longos, lentíssimos... saudades do lado escuro da vida.

Todo dia alguém me pergunta se eu já fui ao museu X ou Y. Não fui, mas ainda vou, respondo. Um dia, eu vou, talvez. Essa urgência em conhecer uma cidade, que vem do outro, me fez pensar em BH.

Nunca fui ao museu Abílio Barreto, mas afirmo que minha cidade natal está em mim entranhada. Nunca estive no Barreiro e nem sei onde fica o bairro Camargos. Mas insisto em dizer que BH eu a sei de cor. E trouxe-a comigo.

Não conheço o Palácio da Liberdade por dentro e – pasmem – nunca entrei na Igreja da Pampulha. Mas conheço seus dias de céu claro e frios de junho, suas águas intermináveis de janeiro e o dia do meu aniversário, que há 12 anos é chuvoso.

Sei que BH nunca é muito fria ou muito quente, conheço aquela chuva de granizo que amassa o capô dos carros, sei bem de seus dias que parecem sempre começar e acabar à mesma hora. Conheço as flores da quaresmeira, que me chegam sempre após o carnaval, evento que deixa a cidade mais vazia e mais calma. Sei da loucura de se andar de carro pelo centro e a vontade enorme de atropelar uns 4 pedestres que forçam suas travessias. Sei dos gritos dos vendedores de passagens clandestinas na porta da rodoviária. Conheço o velhinho que sempre pede esmolas no mesmo sinal da av. Brasil, os malabaristas do sinal vermelho e os entregadores de planfetos, que te fazem voltar pra casa com mais de 7 propagandas de coisas que você nunca vai usar. Ouço sempre o amolador, que está na sua rua e amola facas, tesouras e alicates de unha. Conheço o postinho d’A Obra, que é point só porque todos os meus amigos estarão lá às 2 da manhã pra discutir pra onde ir e não ir a lugar algum. Minha família e meus amigos estão em BH e nós adoramos dizer que a cidade é um ovo, que todo mundo se conhece e, assim, ignoramos as mais de 2 milhões de pessoas que também moram lá e que talvez nunca as vamos conhecer. O que conheço da cidade que deixei foi construída a partir da minha rotina e dos meus caminhos, feitos de medos e de desejos. Essas são as referências de BH que procuro fixar, pois talvez um dia seja preciso refazer meus passos, nunca se sabe.

Por isso, BH pra mim é pequena, composta somente de algumas ruas da zona sul e de outras, de pessoas que eu gosto e de outras. Minha cidade é pequena demais e não sei se algum dia irei conhecê-la para além do que ela me é hoje.

O que sei, por hora, é que esta outra, que estou agora, terá o tamanho das minhas ilusões.

domingo, 14 de junho de 2009

pedalando


as vélib's chegaram na porta da minha casa! agora posso trabalhar de bike todos os dias!

o vélib é um sistema parisiense de aluguel de bicicletas que custa somente 1 euro por dia!

para usá-lo, basta ter um cartão de crédito de chip, porque, além de 1 euro pelo aluguel, eles bloqueiam 150 euros no seu cartão caso você queria ficar com a bike pra você.

pra quem mora aqui, o bom mesmo é fazer um abonnement, ou seja, pagar o valor fixo de 29 euros por ano e pedalar quantas vezes quiser.

em paris, existem mais de mil estações de vélib espalhadas e você encontra uma a cada 300m.

como paris é plana, pedalar é ótimo para conhecer a cidade, gastar menos dinheiro, não enfrentar o cheiro dos metrôs e ainda se exercitar.

mas fique atento: a manota no trânsito, que consiste em não parar no sinal vermelho ou pedalar nos passeios, pode te custar 80 euros.
pra saber mais, acesse: http://www.velib.paris.fr/

quarta-feira, 10 de junho de 2009

a dança, a alma, carlos et edgar




o velho drummond e degas, que eu descobri dia desses no orsay.


A dança? Não é movimento,
súbito gesto musical
É concentração, num momento,
da humana graça natural.
.
No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança - não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.
.
Um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...
.
Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir a forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.
.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

sobre eles

  • Os franceses não são exatamente mal educados, mas sérios.
  • Muitos franceses são cheirosos, o problema é que eles usam a mesma blusa várias vezes na semana.
  • Os franceses não sabem lidar com o imprevisto. Uma situação nova é vista por eles como uma tarefa impossível de ser realizada. Mas vale insistir.
  • Os franceses sempre reivindicam, mesmo quando não tem razão. Mas eles acham que sempre tem razão.
  • Os franceses são racionais e práticos. Nada de sentimentalismos ou argumentos vagos.
  • Os franceses caminham rapidamente pelos corredores dos metrôs.
  • Os franceses sabem o que querem. Deixá-los com ódio mortal significa demorar a escolher o prato no restaurante ou qual cor de saia vai levar.
  • Pardon é a palavra mais usada nas ruas.
  • Os franceses tem um senso estético incrível. Seja para roupas, apresentação de um prato, obras de arte ou vitrines de lojas e doces.
  • Os franceses, infelizmente, não curtem o famoso "jeitinho". Se não pode, não pode. E fim de papo.
  • Os franceses acreditam na palavra do outro. Se você diz ter 26 anos na entrada do museu, você tem 26 anos, sem ter que mostrar identidade (os menores de 26 não pagam um monte de coisas legais!).
  • Os franceses falam bem a sua língua. E esperam que você faça o mesmo. Sem nós vai e nós fica.
  • Os franceses acham que nós brasileiros falamos espanhol. E adoram gastá-lo com a gente.
  • Os franceses lêem o tempo todo no metrô. Mesmo que seja em pé. E o silêncio é sepulcral.
  • Os franceses amam um rendez-vous. Não marcou um, não tem conversa.
  • Dependendo do tom, je suis désolé pode significar de sinto muito a foda-se seu.

domingo, 31 de maio de 2009

o ministério da saúde adverte: vinho tem que ser todo dia

Desde que a gente chegou na França temos tomado vinho praticamente todos os dias.
Nem estamos sentindo falta de cerveja ou de vodka com água de côco...
Os vinhos franceses tem nos servido muito bem e estamos sabendo cada vez mais comprar deliciosas garrafas a preços razoáveis (de 3 a 6 euros).
Preocupada com os possíveis excessos alcoólicos, resolvi diminuir os dias da semana bebidos e reservar os dias do final da semana para degustações mais aprofundadas da minha bebida preferida.
Mas esses dias fui fazer o famoso exame médico indicado pela imigração francesa pra a obtenção da carta de permanência no país (em substituição ao visto brasileiro), quando me deparei com uma cartilha da saúde que me foi ofertada pela simpática funcionária da clínica. A cartilha, que está com uma tradução sofrível para o português, contém a seguinte dica para cuidar bem da saúde:

Álcool
“Para permanecer em boa saúde é aconselhável não ingerir mais de 3 copos de álcool por dia, para os homens, e 2 copos, para as mulheres”. A foto que vem em seguida são dos copos de cada bebida, para que você não exagere na dose, já que eles advertem: “a quantidade de álcool é diferente num copo de cerveja, numa taça de champagne, num copo de vinho ou num copo de pastis”.
E como os franceses tem menos problemas cardíacos, as menores taxas de colesterol e o menor peso dentre os europeus, podemos beber à la vonté!!!!!!!!
( e o doutorado vai muito bem, obrigada)

Confira mais dicas fantásticas dos franceses sobre saúde aqui:
http://www.sida-mexico.fr/IMG/pdf/LSB_port.pdf

vinho ao ar livre




Um dos melhores programas para uma vida de pindaíba em Paris é tomar vinho na Île de Saint Louis. A ilhota, banhada pelo rio Sena e ao lado da Île de la Cité é um mimo só! Pequena, charmosa até a tampa e apesar de cara de arrancar os olhos (é o metro quadrado mais caro de paris e região!), a ilha permite a imigrantes, turistas e nativos um deleite gratuito e pra lá de charmoso: degustar vinhos e queijos às margens do rio! O lugar estratégico pra armar a barraca e a tolha xadrez é em frente à Notre Dame. Como os dias estão ensolarados e duram até às dez, quem vem nos visitar ganha logo este convite para tomar vinho bordeaux com queijo brie. Fizemos este programa pela primeira vez graças ao nosso amigo Mau, que muito aprecia os franceses e seu hábitos...


O grande problema (ou solução) é a quantidade de gente que tem a mesma idéia...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

...


hoje tá difícil

terça-feira, 26 de maio de 2009

o começo de tudo

Eu quero imprimir o meu ritmo ao mundo
No tempo que tenho fazer o que quero
Fazer um minuto de cada segundo
Fazer com que aguardem enquanto eu espero

Eu quero falar lento e pausado
E que os outros me ouçam bem calmamente
Vivendo o presente, esquecendo o passado
E deixando o futuro chegar lentamente

Não quero ser a peça da engrenagem de uma grande máquina que move a seu tempo

Quero imprimir o meu ritmo ao mundo
Quero inventar o meu próprio segundo
Quero viver de momento em momento

Felipe