sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

vida diferente

estão cortando a minha vida em pedaços
arrancando sentimentos
podando sensações.

minha vida acordou mudada.
meu coração não se conforma.
ele não sabe que a vida
tem dessas exigências brutas.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

fin de partie

olho para o lado
tenho uma certeza :

não valeu a pena!

envelheci pelas sensações
gastei-me gerando pensamentos inúteis
 
concentrei e limitei meus desejos
cai numa complexa indisciplina cerebral
 
sinto um grande cansaço no meu coração

faço o luto do que não valeu
e sigo, em frente, adiante, rumo ao desconhecido

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

...

nunca mais
ponto final
é o fim
acabou

e
para
sempre

domingo, 23 de dezembro de 2012

o rosa


O correr da vida embrulha tudo.
 

a vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa, sossega e

depois desinquieta.


O que ela quer da gente é coragem. 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Rainer Maria Rilke

Amar também é bom: porque o amor é difícil.
O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação.

Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo, não sabem amar: tem que aprendê-lo.
Com todo o seu ser, com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário, medroso e palpitante, devem aprender a amar.
 
Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura.
Assim, para quem ama, o amor, por muito tempo e pela vida afora, é solidão, isolamento cada vez mais intenso e profundo.

 
O amor, antes de tudo não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa.
Que sentido teria, com efeito, a união com algo não esclarecido, inacabado, dependente?

O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer,
tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser;

é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Nietzsche

E aqueles que foram vistos dançando
foram julgados insanos
por aqueles que não podiam escutar a música

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

hoje

os olhos já não choram mais
o coração está seco

batem à porta,
não abrirei!

estou só
a luz apagou-se

já não sei mais sofrer

mas a vida prossegue, imperativamente
sem sonho
sem lenda
sem ilusão
 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

LYA LUFT

Não falem alto comigo:
andem sempre nas pontas dos pés

Finjam que não vêem se tenho esse jeito absorto,
se nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada e sem graça
como nunca fui.

Não quero discutir o preço do mercado,
nem os grandes mistérios da existência.

Façam silêncio ao meu redor.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

precipitação

Agir sem refletir

A queda da água em estado líquido

Agir com pressa

Frénésie
.
.
O amor não tem pressa

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

indelicadeza


E eu que pensei que fosse forte

E eu que pensei que fosse dura

Mas eu não sou dura, meu deus!


Ridículo e frágil é o meu coração!

Ele se despedaçou

No dia em que se perdeu

onda


Felicidade
vai e vem
vem e vai

domingo, 25 de novembro de 2012

Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.

Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.

Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas os veremos
seja no claro céu ou no turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.

Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia…

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados completamente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.

Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

defesa à vista!

nos momentos mais cruciais da vida, sentimos a falta de pessoas queridas.

em uma semana defendo meu doutorado: como eu gostaria de ter todos aqui, para os beijos e os abraços!

fui pra vida e ela me trouxe até aqui: que eu possa receber os frutos (nem sempre maduros) dessa jornada de solidão chamada doutorado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

vida

e um dia a sua vida muda
e um dia seu sonho vira pesadelo

e um dia tudo acaba...
da mesma maneira que começou: sem razão e sem porquês.

essa é a tragédia da vida

sábado, 3 de novembro de 2012

em mim

suspiro e fecho os olhos.

arrumo minha cama para a solidão...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

...

A ausência é um estar em mim.
 

consolo na praia - drummond

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.
 

sábado, 20 de outubro de 2012

polemizando...


O suicídio
é um ato extremo
de liberdade.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

onde está Godot?


Fui à Dublin atrás dos traços do meu escritor Samuel Beckett. Mas eles são discretos, discretíssimos. É preciso advinhá-los, talvez até mesmo exumá-los como se fossemos grandes detetives. Beckett tinha horror à publicidade, fugia de tal maneira das aparições públicas que até a cerimônia de entrega do prêmio Nobel que ganhou em 1969 ele esnobou.

Começar pelo local de seu nascimento seria o mais lógico. O problema é que sua casa de nascimento não existe mais e a que ele viveu na adolescência é habitada por pessoas ordinárias que, digamos, também não gostam de câmeras nem holofotes. Conclusão: impossível conseguir dar uma entrada na casa…. poxa, nem na portinha?

No Trinity College (de 1592, fundado pela rainha Elisabeth I), onde ele estudou, foi professor e ganhou medalha de ouro em literatura, consta somente uma plaquinha, indicando que o teatro da universidade ganhou seu nome: Sameul Beckett Theatre.

Saindo do Trinity e andando ao longo do belo e estranho rio Liffey, avista-se uma grandiosa ponte em forma de harpa, imponente, branca e bela: é a ponte em sua homenagem.

A placa diante dela me faz pensar o quanto Beckett odiava aquela ilha, fria e de uma ventania infinita. Nela está gravado:




sábado, 21 de julho de 2012

se essa rua fosse minha


Hoje recebi uma simpática cartinha da prefeitura com informações sobre as origens da minha rua.

Construída em 1280, a rua AU MAIRE deve seu nome au prefeito do domínio rural da igreja Saint-Martin des Champs.
Depois da segunda guerra mundial, a rua começou a ser habitada por chineses, que abriram uma série de lojas destinadas ao comércio de pequenos objetos (in)úteis.
Hoje a rua é famosa pelos mercados e restaurantes chineses, de qualidade nem sempre elevada, mas com preços imbatíveis (tipo molho de soja shoyo 0,60 centavos de euro).

sábado, 30 de junho de 2012

...


Na minha vida errada


De rotina fatigada


Sou, pelo outro e por cada


Assim nomeada:


Nada.



domingo, 17 de junho de 2012

barcelona, enfim!



frio na barriga

a gente começa a perceber que vai deixar definitivamente uma cidade

quando as suas assinaturas de museus e de concertos chegam ao fim

e você é OBRIGADO a recusar a do ano seguinte

pelo simples fato de que seu retorno à terra natal

é iminente.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

T.é.d.i.o.

com um T bem grande pra você

domingo, 13 de maio de 2012

pra completar

e no outro dias das eleições, passei de bicicleta pela praça de la Bastille, rumo à biblioteca da faculdade.
esperava encontrar bagunça, papéis de campanha no chão, palco do dia anterior armado, fotos do Hollande por toda parte...


impressionante, mas a praça estava limpíssima, sem palco, sem lixo, sem nenhum sinal da presença de milhares de pessoas na noite anterior...

terça-feira, 8 de maio de 2012


Até cogitei a ideia de ir à Praça da Bastille dia 06 de maio para ouvir o discurso do presidente eleito de esquerda, François Hollande. Mas a chuvinha fina e o vento irritante me convidaram a assistir tudo pela TV mesmo, ao vivo. Bom, é preciso dizer que depois de horas esperando a chegada de Hollande, seu discurso foi assim, meio chocho, meio rápido, meio médio. 

Mas devo dizer que nada me comoveu mais que um simples detalhe: em meio a uma multidão de 90 mil que estavam na Bastille, a quase maioria das bandeiras levantadas eram de países como Argélia, Tunísia, Marrocos... e uma ou duas da França. Que o presidente atual se dê conta disso: o povo francês agora é outro. Ele é misturado, diversificado e "imigrado".

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Van Gogh



Fotos de Auvers sur Oise, a cidade onde Van Gogh passou seus últimos dias, antes de se matar. Em sessenta dias de estadia na cidade, ele pintou mais de 80 obras e retratou a cidade, seus moradores, seu médico e a ele mesmo de maneira incansável!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

menu de pascoa



Entrada: tomate cereja recheado com queijo de ovelha e manjericão, rolinhos de beringela recheados com tomate seco feito em casa e molho pesto
Prato principal: coelho ao molho de vinho e laranjas, puré de cenoura e risoto de quinoa
Sobremesa: petit gateau de chocolate com recheio de framboesa e verrine de chocolate com queijo branco e morango

tudo feito em casa!

sexta-feira, 2 de março de 2012

O rio

estou há horas escrevendo nesta biblioteca.
diante do meu computador,
misturo as línguas, invento verdades, sinto angústia.
nada movimenta fora de mim.
dentro do meu mundo,
esqueço do outro, suspendo o tempo, restrinjo o espaço.


olho, portanto, para o lado:
vejo diante dos meus olhos um rio, o sena, esse lindo mar parisiense.
a noite veio e eu nem vi.


mas o movimento do rio, que vem e que vai, me mostra que há enfim vida
fora da minha cabeça.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

dias felizes

A ironia de Beckett volta à cena! Winnie é a personagem que está enterrada da cintura pra baixo, que dirige sua fala incessante à um marido taciturno, que nunca aparece no seu campo de visão.

Ela passa seus dias a proferir as mesmas falas, a evocar as lembranças de sempre e a repetir os mesmos gestos. Entretanto, o monologo de Winnie nunca é monótono.

A irreverência de Beckett não é amarga nem desiludida, mesmo que o tema central da peça nos remeta sem parar ao vazio existencial que nos assola.

Winnie testemunha a eterna luta do ser humano face à sua condição decadente e vazia de sentido.

Mas, atencâo, nada de tristeza por aqui!

O humor de Beckett é maravilhosamente sórdido, mas jamais amargo, absurdo ou obscuro!

"Dias felizes", peça de Samuel Beckett, até dia 29 março no Thêatre de la Madeleine!!!!!!


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

rimando bobagens

Por você eu estava viciado
era um amor desenfreado
sem fronteiras, ilimitado
que me deixava atordoado.

Então, em um dia ensolarado
para lá de abençoado
eu havia confessado
que estava apaixonado.

Mas você ficou calado,
acho que apavorado
e, sentindo-se pressionado,
tratou de dar o seu recado.

Você havia me negado
E eu, me sentindo rejeitado,
por você ter me desprezado
mantive meu coração encarcerado.

Mas depois de muito cigarro mentolado
De muito poema parafraseado
Olhei para o lado
E vi que tudo tinha acabado.

Só depois disso constatado
é que percebi, embasbacado
que o nosso amor meio tarado
havia sido por mim alucinado.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

o seco

o frio deu as caras:
-2 hoje e -11 depois...
pele seca, garganta seca, clima seco, gente seca.
e assim vou seguindo, parisiando.

sábado, 21 de janeiro de 2012