sábado, 27 de novembro de 2010

cap au pire

Minha visão do inverno sempre foi romântica. Via filmes de sessão da tarde de um Natal passado em Nova Iorque e sentia uma inveja boa das crianças que se divertiam fazendo bolinhas de neve. Na maturidade, o inverno ganhou pra mim ares mais chiques e não raro me pegava fazendo pose no espelho à la Catherine Deneuve, tentando imitar seu estilo gracioso, sério e elegante como em Belle de Jour.

Mas isso mudou. Tenho vivido neste momento o segundo grande inverno da minha vida. Nascida e criada na cidade ensolorada, com temperaturas mínimas de 15 graus, a partida para o estrangeiro me trouxe essa novidade: sou obrigada a passar quase 7 meses no frio, sendo que em 3 ou 4 deles a temperatura chega a zero grau. Sem falar do vento e da chuva.
O primeiro foi mais doloroso. Saía de casa como um astronauta e, com a cabeça na lua, andava pelas ruas lentamente, tentando me equilibrar no solo deslizante e lameado que a neve derretida provocava. Ao meu lado desfilavam, com uma elegância vazia, as madames com seus casacos de pele e luvas compridas de couro. O inverno daquele ano durou muito mais do que os seus 3 meses de direito: invadiu a primavera e ainda ousou diminuir as temperaturas do verão.

Bom, é fato que esse ano estou mais preparada fisicamente: deixo sair do armário meus cachecóis, meus casacões que protegem até o tornozelo, luvas de lã, boné, tapa-orelha, meias grossas, lenços de papel. Devo dizer que algo mudou nessa relação sempre desigual com o inverno, pois na conquista do meu espaço invernal, não sou mais astronauta. Sei o que vestir, como vestir, digo até que me sinto mais habituada à baixa temperatura.

Entretanto, apesar de ser dessas que pertencem ao lado escuro da vida, que amam o drama e puxam angústia, a passagem do inverno na minha vida deixa meu afeto embotado.

Chique é um inverno de duas semanas, mas de 4 meses? A luz chega às 9 da manhã, vai embora às 4 e meia da tarde, as pessoas não trocam e não se tocam. O céu é absolutamente cinzento; o ar, gélido. Sem falar do vento e da chuva...

Creio que a minha visão do inverno é infernal: chego a ter arrepios e calafrios de horror. O romantismo deu lugar à crueza. A elegância cedeu espaço à frieza. Contra seus malefícios, a música ajuda a criar o quadro de uma exposição perfeita do sentimento de melancolia profundo que experimento nessa época:
http://www.youtube.com/watch?v=ugDBKDdW1ps

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

dia de neve




a neve de hoje, embora doce e rápida, me deixou nostálgica e com uma saudade doída do sol.
deixo então fotos de vernazza, uma das cinque terre, na região da riviera italiana.



terça-feira, 16 de novembro de 2010

a.d.o.r.o




não deixem de visitar esse blog de um apaixonado por paris e nova york!





quinta-feira, 4 de novembro de 2010

33


a você

que como eu

tem a idade de cristo

quando morreu

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Bom Dilma, Brasil

Minha participação nesta campanha eleitoral foi pequena. Não li propostas de governo, não escutei as opiniões dos cientistas políticos, dos debates só acompanhei um e pela metade... Mas hoje saí de casa para exercer meu “direito obrigatório” ao voto. Apesar da participação à margem, as repercussões das campanhas de Dilma e Serra chegaram até mim e delas pude recolher os restos: discursos vazios, apelações, intrigas, sabotagem.

Sem muita informação, sem dados do governo anterior ou do atual e guiada somente pelos meus princípios e pela minha percepção da vida em sociedade nos últimos anos, saí de casa determinada a votar com justiça.

No caminho, o que na minha cabeça eram apenas burburinho e disse-me-disse foi tomando forma de decisão. Não sou petista. Não sou partidária. Mas sou humanista. Meu antigos canhotos de votação marcados com os nomes de meus então candidatos, me colocaram frente-à-frente com meu passado eleitoral. Redescubro que quase sempre votei em pessoas que acreditava que fossem trabalhar pelo bem comum, pela ética social. Pensei no Lula, de quem a biografia li em francês e em quem votei três vezes. E reconheço como deve ter sido difícil para alguns ter tido como líder da nação um homem do povo, sem instrução escolar, sem diploma superior. É fato que quando votamos em alguém, votamos também por identificação: esse fulano poderia me representar e representar todo o meu povo. E de repente, logo Lula pra me representar diante da Rainha da Inglaterra? Do presidente americano? Ah, que grande golpe no narcissismo de muitos foi ter Lula presidente.

Mas eu, como tantos outros, não sentia e não sinto vergonha, mas orgulho de tê-lo como presidente. Pela sua luta, pela sua proposta, mas sobretudo pela verdade do seu discurso. Pensei nas pessoas pra quem a vida melhorou: elas mudaram de classe, o acesso aumentou, a classe média engordou. É, nem sempre é fácil aceitar isso, principalmente pra aqueles que já eram da classe média e que não ganharam mais dinheiro... mas viram os pobres sentarem-se ao seu lado na revendedora de carros.

A classe média (e média alta) viu o “pobre” disputar com ele uma vaga no curso de um novo programa de computador, eles se cotovelaram na fila do financiamento da casa própria. Alguns tiveram – pasmem - que aumentar o salário dos seus empregados. Surpreenderam-se quando o eletricista comprou um novo aparelho de som pro carro ou quando a faxineira passou a cobrar 5 reias a mais por dia de faxina pesada (chega às 8 vai embora às 18 – que folgada!).

A sociedade que um dia já foi escravagista, teve que olhar para o lado e enxergar que ali não tem um "pobre", a quem ele pode destratar porque é "pobre", a quem ele pode expulsar da loja porque não está de tênis mas de chinelos (são havaianas, mas aquelas antigas de tiras verde-água). A classe média e média alta teve que enxergar que ao lado dela tem um cidadão, com desejos, vontades e sonhos, até mesmo de consumo. Como ela. Como todo mundo.

Penso nisso e aperto o botão do futuro. Se as minhas opções são Serra ou Dilma, ora...

Sim, quero Dilma presidente.