domingo, 8 de dezembro de 2013

beckett

o fim está no começo e no entanto continua-se

drummond

Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.
Os cais bolorentos de livros judeus
E a água suja do Sena escorrendo sabedoria.

O pulo da Mancha num segundo.
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
Tarifas bancos fábricas trustes craques.
Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas formam um tapete para
[sua Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.

Submarinos inúteis retalham mares vencidos.
O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos arruinados.
Hamburgo, embigo do mundo.
Homens de cabeça rachada cismam em rachar a cabeça dos outros dentro de alguns
[anos.
A Itália explora conscienciosamente vulcões apagados,
Vulcões que nunca estiveram acesos
A não ser na cabeça de Mussolini.
E a Suíça cândida se oferece
Numa coleção de postais de altitudes altíssimas.

Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.

Não há mais Turquia.
O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a declanchar.
Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme bolchevista e no túmulo de
[Lênin em Moscou parece que um coração
[enorme está batendo, batendo
mas não bate igual ao da gente...

Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a Canção do Exílio.
Como era mesmo a Canção do Exílio?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!

sábado, 7 de dezembro de 2013

perto do fim

cansaço
choro
choro
cansaço
 
não se dorme direito
nem se fica acordado dignamente
 
o fim se aproxima
do começo

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

orfeu

dizem que Orfeu
quando encantou o monstro
que aprisionava sua amada
prometeu-lhe
para tê-la de volta
seguir sem
olhar para trás

é por isso, então
que partirei
daqui
olhando sempre
em frente

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

corpo

um corpo só sustenta os valores que ele vive

sábado, 30 de novembro de 2013

festa do adeus

festa de despedida
é chegada a hora do longo abraço
de adeus

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

jorge luis borges

entre meu amor e mim hão de se levantar
trezentas noites como trezentos muros
e o mar será magia entre nós

não haverá senão recordações
tardes merecidas pela dor,
noites esperançosas de te olhar,
campos do meu caminho, firmamento...

que estou vendo e perdendo...


definitivamente como um mármore
a tua ausência fará tristes outras tardes

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

livros

os livros se foram
embalados em plásticos-bolha
os livros se foram
dentro de caixas de vinho bordeaux
os livros se foram
chegarão em um mês
os livros se foram
antes de mim
os livros se foram
sem mim

chocolate

explodindo de ansiedade
comendo todos os chocolates da vida
mas tudo bem
é côte d'or

domingo, 24 de novembro de 2013

o tempo do navio

queria partir da frança
de navio
tomaria-o no porto mais perto daqui
(o do havre)
enfrentaria horas, dias, semanas
de ondas encobridoras
de náuseas ruidosas
de movimentos ferozes
de esperas secas
 
estenderia assim
o tempo da viagem
numa tentativa insólita
de compreender
o obscuro momento da partida 

sábado, 23 de novembro de 2013

esgotamento

estou cansada
mais do que isso
estou esgotada
estar esgotada é muito mais
do que estar cansada
estar esgotada é se ativar
não para realizar um objetivo qualquer
estar esgotada é se ativar
para nada

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

valeu, fred

"Teus óculos, sobre a mesa de trabalho, me espiam.
Vêem também o meu vazio?

Teus sapatos conheceram Tóquio, Istambul, Buenos Aires.
Repousam agora num canto do armário:
pesariam demais para tua última viagem.

Ofereci tua camisa do América a um torcedor fanático.
Ela vai acrescentar, em seu peito,
a tua paixão ingênua pelo clube.

O canarinho deixou de cantar: morreu em tuas mãos.
Sofreste longamente.
Escutarás seu canto
na gaiola sem portas do para sempre."

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

imaginar

imaginar o cano que nos traz água quente furado
imaginar a casa parcialmente inundada esta manhã
imaginar a casa sem água quente
imaginar a casa sem água
imaginar a casa
imaginar

é hora de partir

terça-feira, 19 de novembro de 2013

souvenir

nada é mais bonito do que Paris
a não ser a lembrança de Paris

domingo, 17 de novembro de 2013

vendido

parte hoje o primeiro móvel vendido
desta casa
carrega com ele todo
seu encanto
sua poeira
seu desengonço
 
carrega com ele
as marcas
os pecados
os traços
daqueles que aqui habitavam
 
parte hoje o primeiro móvel vendido
desta casa
o primeiro móvel desta casa vendido
por uma quantia 
irrelevante insignificante irrisória

sábado, 16 de novembro de 2013

partir

dividir em partes
separar
repartir
distribuir
ter origem ou começo
proceder
confinar
seguir
prosseguir
prolongar-se
estender-se
 
enfim
 
pôr-se à caminho
ir-se embora
sair com ímpeto

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

miguel torga

pareço uma dessas árvores que se transplantam
têm má saúde no país novo
mas que morrem quando voltam à terra natal

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

o ir

part
ir

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

todo dia

olhar nos olhos daquele alguém e
não mais dizer
até logo
até daqui a pouco
será um prazer te rever
 
olhar nos olhos daquele alguém e
passar a dizer
adeus
adeus
adeus
todo dia

terça-feira, 12 de novembro de 2013

fazer e desfazer

pode-se gastar
uma vida
construindo uma casa
trazendo
aos poucos
objetos
para dentro dela
 
gasta-se porém
um dia
para desfazê-la
basta jogar
de uma vez
objetos
para fora dela

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

o tempo passa

aproximar-se do destino
afastar-se da origem
 
ou seria o inverso?

domingo, 10 de novembro de 2013

10 de novembro de 2013

oficialmente, faltam 30 dias.
nada mais estranho do que partir de vez do lugar que me acolheu durante 5 anos.
tirar os objetos de seus lugares habituais...
eles também se acostumam à casa.
imaginá-los jogados em um canto qualquer dessa rua chinesa.
quanto tempo demorarão para perderem o viço, o odor, as cores?
querem eles partir?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

marina tsvetaeva

a vida é uma estação

em breve partirei

não direi para onde

sábado, 2 de novembro de 2013

sobre o partir

sempre me relacionei com o significado da palavra 'emigrantes' de um modo negativo.
quer dizer, abandonar sua pátria como escolha livre por um país alternativo, no sentido de ficar lá para sempre.
somos fugitivos, perseguidos, condenados, malditos, forçados.
não procuramos um novo lar, só um abrigo até que passe a fúria.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ô lou reed!

She's going to break your heart in two, it's true...

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

beckett

Words fail
there are times when even they fail

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

terça-feira, 10 de setembro de 2013

MARINA TSVETAÏEVA


Tentativa de ciúme

Como vai você com a outra?
Fácil, não é? — Um golpe de remo! —
E de pronto a linha da costa
Se foi e você já nem se lembra

De mim, ilha flutuante
(No céu, por certo, não no mar)!
Almas! Almas! — antes amar
Como irmãs, não como amantes!

Como vai você com a mulher
Comum? Sem nada de divino?
Sem soberana, sem sequer
Um trono (você foi o assassino),

Como vai, meu bem? Tudo a gosto?
E o dia-a-dia — sempre igual?
Como você se arranja com o imposto
Da banalidade imortal?

"Mil sobressaltos, incertezas —
Basta! Vou arrumar um teto!"
Como vai, com quem quer que seja —
O eleito pelo meu afeto?

A comida é melhor, mais familiar?
Diga a verdade. Como vai
Você com a imitação vulgar —
Você, que subiu ao Sinai?

Como é viver com uma estranha?
Você a ama? Não disfarce.
O chicote de Zeus da vergonha
Nenhuma vez lhe zurze a face?

E a saúde, vai bem? Que tal
A vida — uma canção? A ferida
Da consciência imortal
Como a suporta, meu querido?

Como vai você com o adereço
De feira? A taxa é muito cara?
Como é aspirar o pó do gesso
Depois do mármor de Carrara?

(Deus talhado em barro, termina
Em pedaços!) Como é o convívio
Com a milionésima da fila
Pra quem já conheceu Lilit?

As novidades de feira
Se acabaram? Farto de portentos,
Como é a vida corriqueira
Com a mulher terrena, sem sexto

Sentido? Vamos, tudo cor
De rosa? Ou não? Aí, nesse oco
Sem fundo, amor, como vai? Pior
Ou igual a mim com outro?

(tradução de Augusto de Campos)


 

sábado, 7 de setembro de 2013

objetos

 


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

poema algum

hoje de manhã
folheei uma dúzia de livros
empilhados na estante
 
estava à procura de uma frase,
uma frase assim curta
para anotar no meu caderninho azul
 
dela queria fazer um poema
escreveria duas páginas
e meia de poesia amarga
 
mas peguei uma xícara de café forte
bebi de uma só vez
e comecei o dia

domingo, 18 de agosto de 2013

a sala das árvores perdidas

durante esse ameno mês de agosto, paris é vazia de pessoas. poucos circulam pelas ruas, lojas de pequenos bairros fecham, crianças quase não se vê...
 
é uma verdadeira benção poder circular assim, livre, leve e solta, de havaianas nos pés e umas mil ideias na cabeça.
 
numa dessas andanças, acabei caindo no parque monceau, lá "no alto" da cidade.
 
umas ruínas romanas, flores coloridas, burgueses sentados nos milhões de banquinhos à disposição e... árvores!
 
quanta árvore impressionante existe nesse local!
 
galhosas, grandiosas, graciosas, seculares!
 
dessas imensas que formam sombras acolhedoras em torno delas, como se fossem cabaninhas folhosas isoladas do mundo real.
 
poderia morar nessas cabaninhas e só sairia de quando em quando, para tomar água na estranha mini cachoeira escondida num canto do parque e me alimentar dos restos de grãos rejeitados pelos pombos solitários.

sábado, 17 de agosto de 2013

isidore isou

poema para esmagar a barata

(poème pour broyer le cafard)

http://www.youtube.com/watch?v=aq3n2TW6frE

 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

manifesto comunista

a burguesia fez da dignidade pessoal um simples valor de troca.

o capital é um produto coletivo: ele só pode ser movimentado pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

quintana

no fim
tu hás de ver
que as coisas
mais leves
são as únicas
que o vento
não conseguiu levar

terça-feira, 13 de agosto de 2013

deleuziana

O corpo é uma usina de desejo

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

esse fausto sertanejo

Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava.
Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita.
Era ele estar perto de mim, e nada me faltava.
Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego.
Era ele estar longe, e eu só nele pensava.

(grande sertão: veredas)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

do efêmero

somente o seu carro
poderia acolher
este amor passageiro

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

...

não dependa das palavras
para salvar este amor

elas te faltarão
quando mais precisar delas

quarta-feira, 31 de julho de 2013

a espera

cansei de esperar
vou-me embora, disse ela

levantou-se
ajeitou o vestido
e não se moveu

terça-feira, 30 de julho de 2013

holocausto brasileiro em barbacena


em nome da razão, de helvécio raton

documentàrio

domingo, 28 de julho de 2013

é galo doido, porra



narração memorável de osvaldo reis no jogo atlético x tijuana!

sábado, 20 de julho de 2013

dites

e se um dia eu me calar
é porque não há mais nada a dizer
embora eu nada tenha dito

quinta-feira, 18 de julho de 2013

a palavra minas

Minas não é palavra montanhosa
É palavra abissal
Minas é dentro e fundo
As montanhas escondem o que é Minas.

 No alto mais celeste, subterrânea,
é galeria vertical varando o ferro
para chegar ninguém sabe onde.

 Ninguém sabe Minas. A pedra
o buriti
a carranca
o nevoeiro
o raio
selam a verdade primeira,
sepultada em eras geológicas de sonho.

Só mineiros sabem.
E não dizem nem a si mesmos o
irrevelável segredo
chamado Minas.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

ida e volta

a gente se encontra
e perde o trem.
ora eu,
ora você.
até quando, antes de nos perdemos?

domingo, 14 de julho de 2013

porvir

penso no seu lápis

pequeno e verde

quase sem ponta

que guardei  no bolso de trás

da minha calça vermelha

 

na volta do táxi

ainda deu para escrever

no canto esquerdo

de uma folha de papel:

 

você

é meu presente

sem futuro

quinta-feira, 11 de julho de 2013

...


Este tormento...
Em qual esquina ficou a minha paz?

domingo, 30 de junho de 2013

OCUPA BH

 
 
 
Manifestantes ocupam desde ontem a câmara municipal de Belo Horizonte, apos realização da Assembléia Popular Horizontal e à não aprovação das emendas discutidas com o presidente da câmara de vereadores.
 
As emendas pediam  a publicação da planilha de custo das empresas no site da prefeitura e o repasse integral das isenções federais do PIS/COFIS ao valor da tarifa – o que levaria a redução de até R$ 0,20. Por enquanto, a tarifa de ônibus segue com a redução ÍNFIMA  de R$ 0,05.

sábado, 29 de junho de 2013

fora


um estrangeiro
é aquele
cujo o amor
está em outro lugar

segunda-feira, 24 de junho de 2013

movimento rua livre



METRO BH:

POR UM TREM QUE FUNCIONE


 

domingo, 23 de junho de 2013

dobraduras de simon hantai




No Pompidou, até dia 02 de setembro.
 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

e agora josé, pra onde?

 
 
 

manifestações, enfim

 
 "Quando eu vejo alguém falando "o gigante acordou", fico na dúvida: Você era um dos que estavam dormindo ou você estava tentando acordar o restante?"

 
 
 

domingo, 9 de junho de 2013

beckett


depois deste banho de lama, vai ser mais fácil eu aceitar um mundo que minha presença não tenha conspurcado.
 
que jeito de raciocinar.
 
vou abrir os olhos, me contemplar tremendo, engolir minha sopa, vou olhar de relance a trouxa com meus bens, dar a meu corpo as velhas ordens que eu sei que ele não é mais capaz de executar, vou consultar meu espírito destinado à ruína e ao fracasso, vou estragar minha agonia para poder vivê-la melhor, já longe do mundo, que, por fim, abre seus grandes lábios e me deixa partir.
 
(malone morre)

quinta-feira, 23 de maio de 2013

vie misérable



quando a mariana morreu, escrevi algumas palavras que seriam lidas por mim em sua missa de sétimo dia, como uma espécie de homenagem.
 
escrevi-as em uma sentada, sem pensar muito, deixando as palavras me dominarem, tudo assim, meio sem controle.

engraçado é que no dia da missa, eu me perdi completamente, no caminho.
na verdade, eu nem sabia pra onde eu deveria ir, em qual igreja deveríamos realizar o ritual católico de passagem aos céus...
 
liguei prum amigo, que me disse: você não sabe, a missa será na igreja que ela sempre frequentou!
eu não sabia.

aliás, eu sempre me surpreendia quando alguém, ou ela mesma, me dizia da crença em deus.
mariana era menina religiosa.
ia à missa, rezava antes de dormir, lia passagens da bíblia.
 
e eu a dizia: porra, mari, por que você acredita nessas historinhas de deus? logo você?
e ela nem ligava, ela dava aquela gargalhada que ainda ressoa nos meus ouvidos e me dizia, no alto de sua fé inquebrantável: um dia você vai entender, fabi!

e então eu cheguei quase no fim daquela missa de sétimo dia.
pensei que, logicamente, ela deveria frequentar alguma igreja ao lado da casa dela... me enganei, passei por três em que se rezavam missas também.
 
era uma missa comum, mas no final o padre fazia uma menção à memória da mariana.
 
à memória da mariana! como assim, se ela estava ainda tão presente ali, em mim pelo menos, naquela capela mesmo, sentada ao meu lado e acreditando nas palavras de fé de um moço de batina branca? poderia ser possível falar das memórias e das lembranças de alguém tão presente?

assim ele convocou aqueles que gostariam de dizer uma palavra em homenagem à ela.
 
subi no altar, acompanhada de uma outra amiga e achei que tudo não passava de um grande teatro.
afinal, eu era atéia e não frequentava igrejas, ainda mais missas e que minha dor seria vivida no isolamento do meu quarto frio daquela noite de maio.

mas de repente eu já estava lá, no altar e lia algumas palavras.
eu até falei de saudade, como se sua presença estivesse longe.
 
mas não, mas não.
 
era ela quem me segurava quando eu estava ali naquele altar, tremendo como se ardesse em febre, tonta como se doente estivesse.
 
queria congelar o tempo, disse, mas o tempo não pode voltar.
não havia mais retorno, à partir de um ponto não há mais retorno possível, diria kafka.

hoje vejo que não consegui congelar nada, nem o tempo, porque este não pode mais voltar, mas que reeditei em mim alguns pedaços dela, que agora me compõem e me habitam.

e assim sigo.

miserável vida.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

joão

O vento experimenta
o que irá fazer com sua liberdade

sexta-feira, 19 de abril de 2013

sentimental

Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.


No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

- Estás sonhando? Olhe que a sopa esfria!


Eu estava sonhando...

E há em todas as consciências, um cartaz amarelo:
"Nesse país é proibido sonhar."


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 3 de abril de 2013

quer virar francês?


para obter a nacionalidade francesa, você pode se casar com uma ou um (e que dure pelo menos três anos), morar há cinco anos no país ou ter filhos nascidos aqui.
 
nos três casos, o candidato deve atestar proficiência na língua além de passar, obrigatoriamente, por um teste de quinze questões de cultura geral: são quinze segundos para responder cada questão!
 
só não sabemos quantos pontos devemos obter, no mínimo!
 
quer tentar?
 
olha o link:
 

terça-feira, 2 de abril de 2013

La Borde

Em uma semana, me mudo para a clínica La Borde, uma clínica psiquiátrica dirigida pelo lendário psicanalista e psiquiatra francês JeanOury, de 90 anos.

La Borde faz parte da história da reforma psiquiátrica: fundada em 1954, trata-se de uma clínica que rejeita por completo os moldes e a forma de tratamento oferecidos em hospitais psiquiátricos tradicionais.
Pacientes, médicos, psicólogos, enfermeiros e estagiários convivem em um castelo no Vale do Loire, onde realizam uma espécie de auto-gestão.

Existem reuniões em que todos decidem sobre o bom funcionamento da clínica, os horários das refeições, os dias de passeios, etc.

Todos ajudam na cozinha e na limpeza do local, visando sempre o bem comum. Sem hierarquia nem passividade.
Adiciono uma foto do local e após dois meses de uma experiência-aventura que começa semana que vem, volto pra dizer como foi!
 
 

 

sexta-feira, 29 de março de 2013

domingo, 10 de março de 2013

quando?

Quando é que você parou de dançar?

Quando é que você parou de cantar?

Quando é que você parou de acreditar?

Quando é que você parou de se encantar?


Quando é que você parou para silenciar?



Quando é que você parou de amar?
.
.
.

é preciso aprender com a primavera:

deixar-se cortar e voltar sempre inteira

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

clarice lispector

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo : sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.
 
Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

joão cabral de melo neto


o amor comeu os dias ainda não anunciados nas folhinhas.

comeu os minutos de adiantamento de meu relógio,
os anos que as linhas de minha mão asseguravam.

comeu o futuro grande atleta,
o futuro grande poeta.

comeu as futuras viagens em volta da terra,
as futuras estantes em volta da sala.

o amor comeu minha paz e minha guerra.

meu dia e minha noite.
meu inverno e meu verão.

comeu meu silêncio,
minha dor de cabeça,
meu medo da morte.

 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

queria


queria que o sentimento

vivido naquele momento

permanecesse intacto

enganando o tempo

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

julio cortázar


Aplastamiento de las gotas

Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío. Ahora aparece una gotita en lo alto del marco de la ventana; se queda temblequeando contra el cielo que la triza en mil brillos apagados, va creciendo y se tambalea, ya va a caer y no se cae, todavía no se cae. Está prendida con todas las uñas, no quiere caerse y se la ve que se agarra con los dientes, mientras le crece la barriga; ya es una gotaza que cuelga majestuosa, y de pronto zup, ahí va, plaf, deshecha, nada, una viscosidad en el mármol.
Pero las hay que se suicidan y se entregan enseguida, brotan en el marco y ahí mismo se tiran; me parece ver la vibración del salto, sus piernitas desprendiéndose y el grito que las emborracha en esa nada del caer y aniquilarse. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adiós gotas. Adiós.


http://www.youtube.com/watch?v=R52iNrFKUSw

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

clarice lispector


AINDA BEM QUE SEMPRE EXISTE OUTRO DIA

E OUTROS SONHOS

E OUTROS RISOS

E OUTRAS PESSOAS

E OUTRAS COISAS

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

wilde 2


desculpe-me, não te reconheci:

eu mudei muito
 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

oscar wilde



O TOLO NUNCA SE RECUPERA DE UM SUCESSO