Acabamos de receber as primeiras visitas brasileiras aqui em casa! Além da alegria habitual das meninas, elas nos traziam, todos os dias, notícias da cidade onde moro agora. Através de suas narrativas diárias, pude conhecer um pouco do que é a Paris do turista. Talvez eu a conheça um dia, não sei.
Meu trajeto habitual tem sido da casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Trajeto feito de metrô, em que as marcas da cidade me chegam não pela quantidade de museus que eu (não) visitei ou pelos monumentos que eu (não) subi. O que tenho conhecido daqui são os níveis da temperatura, oscilantes e variantes, o corre-corre das pessoas de todo tipo nos metrôs e a intensidade da luz, que demora a se recolher, deixando os dias longos, lentíssimos... saudades do lado escuro da vida.
Todo dia alguém me pergunta se eu já fui ao museu X ou Y. Não fui, mas ainda vou, respondo. Um dia, eu vou, talvez. Essa urgência em conhecer uma cidade, que vem do outro, me fez pensar em BH.
Nunca fui ao museu Abílio Barreto, mas afirmo que minha cidade natal está em mim entranhada. Nunca estive no Barreiro e nem sei onde fica o bairro Camargos. Mas insisto em dizer que BH eu a sei de cor. E trouxe-a comigo.
Não conheço o Palácio da Liberdade por dentro e – pasmem – nunca entrei na Igreja da Pampulha. Mas conheço seus dias de céu claro e frios de junho, suas águas intermináveis de janeiro e o dia do meu aniversário, que há 12 anos é chuvoso.
Sei que BH nunca é muito fria ou muito quente, conheço aquela chuva de granizo que amassa o capô dos carros, sei bem de seus dias que parecem sempre começar e acabar à mesma hora. Conheço as flores da quaresmeira, que me chegam sempre após o carnaval, evento que deixa a cidade mais vazia e mais calma. Sei da loucura de se andar de carro pelo centro e a vontade enorme de atropelar uns 4 pedestres que forçam suas travessias. Sei dos gritos dos vendedores de passagens clandestinas na porta da rodoviária. Conheço o velhinho que sempre pede esmolas no mesmo sinal da av. Brasil, os malabaristas do sinal vermelho e os entregadores de planfetos, que te fazem voltar pra casa com mais de 7 propagandas de coisas que você nunca vai usar. Ouço sempre o amolador, que está na sua rua e amola facas, tesouras e alicates de unha. Conheço o postinho d’A Obra, que é point só porque todos os meus amigos estarão lá às 2 da manhã pra discutir pra onde ir e não ir a lugar algum. Minha família e meus amigos estão em BH e nós adoramos dizer que a cidade é um ovo, que todo mundo se conhece e, assim, ignoramos as mais de 2 milhões de pessoas que também moram lá e que talvez nunca as vamos conhecer. O que conheço da cidade que deixei foi construída a partir da minha rotina e dos meus caminhos, feitos de medos e de desejos. Essas são as referências de BH que procuro fixar, pois talvez um dia seja preciso refazer meus passos, nunca se sabe.
Por isso, BH pra mim é pequena, composta somente de algumas ruas da zona sul e de outras, de pessoas que eu gosto e de outras. Minha cidade é pequena demais e não sei se algum dia irei conhecê-la para além do que ela me é hoje.
O que sei, por hora, é que esta outra, que estou agora, terá o tamanho das minhas ilusões.
5 comentários:
Realmente BH é tudo isto que vc. descreveu.Admiramos porque as pessoas não viram certos pontos quando viajaram e realmente nem nós conhecemos a nossa terra,não só em termos de Bh. mas do Brasil. É isto aí , vá conhecendo Paris aos poucos, e ao final desta jornada de estudos, já terá ido em todos os pontos grandes e pequenos,importantes ou não.Mas poderá dizer que conheçe a cidade Luz ,mais que a sua terra. Vá em frente.Abraços, MMarta
As ilusões são grandes?
O homem que não deixa a sua vila não conhece nem mesmo a sua vila...Beijo R.
Lindo texto, Fabiana!
Lendo a sua BH deu saudade da minha, um pouco parecida e um pouco diferente...
Beijos pra você e Felipe,
Iris (baiana).
oi iris! que bom que gostou!!!
beijos enormes em você e maria!!!
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