A França sempre me pareceu um lugar moderninho, vanguardista e avesso a caretices. Mas se tem um assunto que me intriga aqui é a troca de nomes que ocorre quando de um casamento civil. Explico: os cidadãos franceses possuem, geralmente, apenas dois nomes: um nome próprio e um sobrenome de família. Aliás, de família não, do pai (o Nome do Pai).
Quando há o casamento civil, a mulher obrigatoriamente perde seu sobrenome e passa a adotar o sobrenome do marido. Se ela, ao invés de retirar seu sobrenome, quiser somente acrescentar o do marido, pode, o que faz com que ela tenha dois sobrenomes, algo, inclusive, incomum por aqui. Caso haja separação, a mulher pode voltar a ter o sobrenome de seu pai ou, então, manter o do ex e acrescentar o sobrenome do próximo marido. Nesse caso, seu nome acaba se tornando um dossiê de sua relação amorosa.
Nós brasileiros somos famosos por aqui por termos inúmeros nomes e sobrenomes. O meu é composto por 4: um nome composto e um sobrenome duplo. Bom, ao me casar, optei por manter meu nome como está, ou seja, meu “nome de solteira”. Mas aqui na França eles parecem não entender essa escolha. Inúmeras vezes sou chamada pelo sobrenome do marido (e ezé dois) o que acaba me dando problemas quando alguém me manda uma carta somente com o sobrenome dele e não com o meu - eu viro a Madame Magalhães - , não tendo como provar que o destinatário da carta sou eu, que aquela encomenda é pra mim, que o seguro está no meu nome e etc.
Mas assustada mesmo eu fiquei hoje: ao sair da prefeitura com o meu documento de identidade estrangeiro pronto (e emitido por eles após uma pequena espera de 3 meses), percebi que pra eles eu tenho 4 sobrenomes e 2 nomes. E não adianta reclamar, pedir pra tirar, pedir pra trocar. Você é obrigada a ter o nome do seu marido no seu documento e pronto. E o sobrenome dele ainda vem primeiro que o meu: 2 sobrenomes do marido na primeira linha, 2 sobrenomes da minha família na segunda linha e meus 2 nomes próprios na terceira!
Pode?