o fim está no começo e no entanto continua-se
domingo, 8 de dezembro de 2013
drummond
Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.
Os cais bolorentos de livros judeus
E a água suja do Sena escorrendo sabedoria.
O pulo da Mancha num segundo.
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
Tarifas bancos fábricas trustes craques.
Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas formam um tapete para
[sua Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.
Submarinos inúteis retalham mares vencidos.
O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos arruinados.
Hamburgo, embigo do mundo.
Homens de cabeça rachada cismam em rachar a cabeça dos outros dentro de alguns
[anos.
A Itália explora conscienciosamente vulcões apagados,
Vulcões que nunca estiveram acesos
A não ser na cabeça de Mussolini.
E a Suíça cândida se oferece
Numa coleção de postais de altitudes altíssimas.
Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.
Não há mais Turquia.
O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a declanchar.
Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme bolchevista e no túmulo de
[Lênin em Moscou parece que um coração
[enorme está batendo, batendo
mas não bate igual ao da gente...
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a Canção do Exílio.
Como era mesmo a Canção do Exílio?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.
Os cais bolorentos de livros judeus
E a água suja do Sena escorrendo sabedoria.
O pulo da Mancha num segundo.
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
Tarifas bancos fábricas trustes craques.
Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas formam um tapete para
[sua Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.
Submarinos inúteis retalham mares vencidos.
O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos arruinados.
Hamburgo, embigo do mundo.
Homens de cabeça rachada cismam em rachar a cabeça dos outros dentro de alguns
[anos.
A Itália explora conscienciosamente vulcões apagados,
Vulcões que nunca estiveram acesos
A não ser na cabeça de Mussolini.
E a Suíça cândida se oferece
Numa coleção de postais de altitudes altíssimas.
Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.
Não há mais Turquia.
O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a declanchar.
Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme bolchevista e no túmulo de
[Lênin em Moscou parece que um coração
[enorme está batendo, batendo
mas não bate igual ao da gente...
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a Canção do Exílio.
Como era mesmo a Canção do Exílio?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!
sábado, 7 de dezembro de 2013
perto do fim
cansaço
choro
choro
cansaço
não se dorme direito
nem se fica acordado dignamente
o fim se aproxima
do começo
do começo
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
orfeu
dizem que Orfeu
quando encantou o monstro
que aprisionava sua amada
prometeu-lhe
para tê-la de volta
seguir sem
olhar para trás
é por isso, então
que partirei
daqui
olhando sempre
em frente
quando encantou o monstro
que aprisionava sua amada
prometeu-lhe
para tê-la de volta
seguir sem
olhar para trás
é por isso, então
que partirei
daqui
olhando sempre
em frente
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
sábado, 30 de novembro de 2013
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
jorge luis borges
entre meu amor e mim hão de se levantar
trezentas noites como trezentos muros
e o mar será magia entre nós
não haverá senão recordações
tardes merecidas pela dor,
noites esperançosas de te olhar,
campos do meu caminho, firmamento...
que estou vendo e perdendo...
trezentas noites como trezentos muros
e o mar será magia entre nós
não haverá senão recordações
tardes merecidas pela dor,
noites esperançosas de te olhar,
campos do meu caminho, firmamento...
que estou vendo e perdendo...
definitivamente como um mármore
a tua ausência fará tristes outras tardes
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
livros
os livros se foram
embalados em plásticos-bolha
os livros se foram
dentro de caixas de vinho bordeaux
os livros se foram
chegarão em um mês
os livros se foram
antes de mim
os livros se foram
sem mim
embalados em plásticos-bolha
os livros se foram
dentro de caixas de vinho bordeaux
os livros se foram
chegarão em um mês
os livros se foram
antes de mim
os livros se foram
sem mim
domingo, 24 de novembro de 2013
o tempo do navio
queria partir da frança
de navio
tomaria-o no porto mais perto daqui
(o do havre)
enfrentaria horas, dias, semanas
de ondas encobridoras
de náuseas ruidosas
de movimentos ferozes
de esperas secas
estenderia assim
o tempo da viagem
numa tentativa insólita
de compreender
o obscuro momento da partida
o obscuro momento da partida
sábado, 23 de novembro de 2013
esgotamento
estou cansada
mais do que isso
estou esgotada
estar esgotada é muito mais
do que estar cansada
estar esgotada é se ativar
não para realizar um objetivo qualquer
estar esgotada é se ativar
para nada
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
valeu, fred
"Teus óculos, sobre a mesa de trabalho, me espiam.
Vêem também o meu vazio?
Teus sapatos conheceram Tóquio, Istambul, Buenos Aires.
Repousam agora num canto do armário:
pesariam demais para tua última viagem.
Ofereci tua camisa do América a um torcedor fanático.
Ela vai acrescentar, em seu peito,
a tua paixão ingênua pelo clube.
O canarinho deixou de cantar: morreu em tuas mãos.
Sofreste longamente.
Escutarás seu canto
na gaiola sem portas do para sempre."
Vêem também o meu vazio?
Teus sapatos conheceram Tóquio, Istambul, Buenos Aires.
Repousam agora num canto do armário:
pesariam demais para tua última viagem.
Ofereci tua camisa do América a um torcedor fanático.
Ela vai acrescentar, em seu peito,
a tua paixão ingênua pelo clube.
O canarinho deixou de cantar: morreu em tuas mãos.
Sofreste longamente.
Escutarás seu canto
na gaiola sem portas do para sempre."
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
imaginar
imaginar o cano que nos traz água quente furado
imaginar a casa parcialmente inundada esta manhã
imaginar a casa sem água quente
imaginar a casa sem água
imaginar a casa
imaginar
é hora de partir
imaginar a casa parcialmente inundada esta manhã
imaginar a casa sem água quente
imaginar a casa sem água
imaginar a casa
imaginar
é hora de partir
terça-feira, 19 de novembro de 2013
domingo, 17 de novembro de 2013
vendido
parte hoje o primeiro móvel vendido
desta casa
carrega com ele todo
seu encanto
sua poeira
seu desengonço
carrega com ele
as marcas
os pecados
os traços
daqueles que aqui habitavam
parte hoje o primeiro móvel vendido
desta casa
o primeiro móvel desta casa vendido
por uma quantia
irrelevante insignificante irrisória
sábado, 16 de novembro de 2013
partir
dividir em partes
separar
repartir
distribuir
ter origem ou começo
proceder
confinar
seguir
prosseguir
prolongar-se
estender-se
enfim
pôr-se à caminho
ir-se embora
sair com ímpeto
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
miguel torga
pareço uma dessas árvores que se transplantam
têm má saúde no país novo
mas que morrem quando voltam à terra natal
têm má saúde no país novo
mas que morrem quando voltam à terra natal
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
todo dia
olhar nos olhos daquele alguém e
não mais dizer
até logo
até daqui a pouco
será um prazer te rever
olhar nos olhos daquele alguém e
passar a dizer
adeus
adeus
adeus
todo dia
terça-feira, 12 de novembro de 2013
fazer e desfazer
pode-se gastar
uma vida
construindo uma casa
trazendo
aos poucos
objetos
para dentro dela
gasta-se porém
um dia
para desfazê-la
basta jogar
de uma vez
objetos
para fora dela
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
domingo, 10 de novembro de 2013
10 de novembro de 2013
oficialmente, faltam 30 dias.
nada mais estranho do que partir de vez do lugar que me acolheu durante 5 anos.
tirar os objetos de seus lugares habituais...
eles também se acostumam à casa.
imaginá-los jogados em um canto qualquer dessa rua chinesa.
quanto tempo demorarão para perderem o viço, o odor, as cores?
querem eles partir?
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
sábado, 2 de novembro de 2013
sobre o partir
sempre me relacionei com o significado da palavra 'emigrantes' de um modo negativo.
quer dizer, abandonar sua pátria como escolha livre por um país alternativo, no sentido de ficar lá para sempre.
somos fugitivos, perseguidos, condenados, malditos, forçados.
não procuramos um novo lar, só um abrigo até que passe a fúria.
não procuramos um novo lar, só um abrigo até que passe a fúria.
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
terça-feira, 10 de setembro de 2013
MARINA TSVETAÏEVA
Tentativa de ciúme
Como vai você com a outra?
Fácil, não é? — Um golpe de remo! —
E de pronto a linha da costa
Se foi e você já nem se lembra
De mim, ilha flutuante
(No céu, por certo, não no mar)!
Almas! Almas! — antes amar
Como irmãs, não como amantes!
Como vai você com a mulher
Comum? Sem nada de divino?
Sem soberana, sem sequer
Um trono (você foi o assassino),
Como vai, meu bem? Tudo a gosto?
E o dia-a-dia — sempre igual?
Como você se arranja com o imposto
Da banalidade imortal?
"Mil sobressaltos, incertezas —
Basta! Vou arrumar um teto!"
Como vai, com quem quer que seja —
O eleito pelo meu afeto?
A comida é melhor, mais familiar?
Diga a verdade. Como vai
Você com a imitação vulgar —
Você, que subiu ao Sinai?
Como é viver com uma estranha?
Você a ama? Não disfarce.
O chicote de Zeus da vergonha
Nenhuma vez lhe zurze a face?
E a saúde, vai bem? Que tal
A vida — uma canção? A ferida
Da consciência imortal
Como a suporta, meu querido?
Como vai você com o adereço
De feira? A taxa é muito cara?
Como é aspirar o pó do gesso
Depois do mármor de Carrara?
(Deus talhado em barro, termina
Em pedaços!) Como é o convívio
Com a milionésima da fila
Pra quem já conheceu Lilit?
As novidades de feira
Se acabaram? Farto de portentos,
Como é a vida corriqueira
Com a mulher terrena, sem sexto
Sentido? Vamos, tudo cor
De rosa? Ou não? Aí, nesse oco
Sem fundo, amor, como vai? Pior
Ou igual a mim com outro?
(tradução de Augusto de Campos)
sábado, 7 de setembro de 2013
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
poema algum
hoje de manhã
folheei uma dúzia de livros
empilhados na estante
estava à procura de uma frase,
uma frase assim curta
para anotar no meu caderninho azul
dela queria fazer um poema
escreveria duas páginas
e meia de poesia amarga
mas peguei uma xícara de café forte
bebi de uma só vez
e comecei o dia
domingo, 18 de agosto de 2013
a sala das árvores perdidas
durante esse ameno mês de agosto, paris é vazia de pessoas. poucos circulam pelas ruas, lojas de pequenos bairros fecham, crianças quase não se vê...
é uma verdadeira benção poder circular assim, livre, leve e solta, de havaianas nos pés e umas mil ideias na cabeça.
numa dessas andanças, acabei caindo no parque monceau, lá "no alto" da cidade.
umas ruínas romanas, flores coloridas, burgueses sentados nos milhões de banquinhos à disposição e... árvores!
quanta árvore impressionante existe nesse local!
galhosas, grandiosas, graciosas, seculares!
dessas imensas que formam sombras acolhedoras em torno delas, como se fossem cabaninhas folhosas isoladas do mundo real.
poderia morar nessas cabaninhas e só sairia de quando em quando, para tomar água na estranha mini cachoeira escondida num canto do parque e me alimentar dos restos de grãos rejeitados pelos pombos solitários.
sábado, 17 de agosto de 2013
isidore isou
poema para esmagar a barata
(poème pour broyer le cafard)
http://www.youtube.com/watch?v=aq3n2TW6frE
(poème pour broyer le cafard)
http://www.youtube.com/watch?v=aq3n2TW6frE
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
manifesto comunista
a burguesia fez da dignidade pessoal um simples valor de troca.
o capital é um produto coletivo: ele só pode ser movimentado pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade.
o capital é um produto coletivo: ele só pode ser movimentado pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
quintana
no fim
tu hás de ver
que as coisas
mais leves
são as únicas
que o vento
não conseguiu levar
tu hás de ver
que as coisas
mais leves
são as únicas
que o vento
não conseguiu levar
terça-feira, 13 de agosto de 2013
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
esse fausto sertanejo
Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava.
Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita.
Era ele estar perto de mim, e nada me faltava.
Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego.
Era ele estar longe, e eu só nele pensava.
(grande sertão: veredas)
Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita.
Era ele estar perto de mim, e nada me faltava.
Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego.
Era ele estar longe, e eu só nele pensava.
(grande sertão: veredas)
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
quarta-feira, 31 de julho de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
domingo, 28 de julho de 2013
sábado, 20 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
a palavra minas
Minas não é palavra montanhosa
É palavra abissal
Minas é dentro e fundo
As montanhas escondem o que é Minas.
É palavra abissal
Minas é dentro e fundo
As montanhas escondem o que é Minas.
No alto mais celeste, subterrânea,
é galeria vertical varando o ferro
para chegar ninguém sabe onde.
Ninguém sabe Minas. A pedra
o buriti
a carranca
o nevoeiro
o raio
selam a verdade primeira,
sepultada em eras geológicas de sonho.
Só mineiros sabem.
E não dizem nem a si mesmos o
irrevelável segredo
chamado Minas.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
ida e volta
domingo, 14 de julho de 2013
porvir
pequeno e verde
quase sem ponta
que guardei no bolso de trás
da minha calça vermelha
na volta do táxi
ainda deu para escrever
no canto esquerdo
de uma folha de papel:
você
é meu presente
sem futuro
quinta-feira, 11 de julho de 2013
domingo, 30 de junho de 2013
OCUPA BH
Manifestantes ocupam desde ontem a câmara municipal de Belo Horizonte, apos realização da Assembléia Popular Horizontal e à não aprovação das emendas discutidas com o presidente da câmara de vereadores.
As emendas pediam a publicação da planilha de custo das empresas no site da prefeitura e o repasse integral das isenções federais do PIS/COFIS ao valor da tarifa – o que levaria a redução de até R$ 0,20. Por enquanto, a tarifa de ônibus segue com a redução ÍNFIMA de R$ 0,05.
sábado, 29 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
domingo, 23 de junho de 2013
sexta-feira, 21 de junho de 2013
domingo, 9 de junho de 2013
beckett
depois deste banho de lama, vai ser mais fácil eu
aceitar um mundo que minha presença não tenha conspurcado.
que jeito de
raciocinar.
vou abrir os olhos, me contemplar tremendo, engolir minha sopa, vou
olhar de relance a trouxa com meus bens, dar a meu corpo as velhas ordens que
eu sei que ele não é mais capaz de executar, vou consultar meu espírito
destinado à ruína e ao fracasso, vou estragar minha agonia para poder vivê-la
melhor, já longe do mundo, que, por fim, abre seus grandes lábios e me deixa
partir.
(malone morre)
quinta-feira, 23 de maio de 2013
vie misérable
quando a mariana morreu, escrevi algumas palavras que seriam lidas por
mim em sua missa de sétimo dia, como uma espécie de homenagem.
escrevi-as em uma sentada, sem pensar muito, deixando as palavras me dominarem, tudo assim, meio sem controle.
engraçado é que no dia da missa, eu me perdi completamente, no caminho.
na verdade, eu nem sabia pra onde eu deveria ir, em qual igreja deveríamos realizar o ritual católico de passagem aos céus...
liguei prum amigo, que me disse: você não sabe, a missa será na igreja que ela sempre frequentou!
eu não sabia.
aliás, eu sempre me surpreendia quando alguém, ou ela mesma, me dizia da crença em deus.
mariana era menina religiosa.
ia à missa, rezava antes de dormir, lia passagens da bíblia.
e eu a dizia: porra, mari, por que você acredita nessas historinhas de deus? logo você?
e
ela nem ligava, ela dava aquela gargalhada que ainda ressoa nos meus
ouvidos e me dizia, no alto de sua fé inquebrantável: um dia você vai
entender, fabi!
e então eu cheguei quase no fim daquela missa de sétimo dia.
pensei
que, logicamente, ela deveria frequentar alguma igreja ao lado da casa
dela... me enganei, passei por três em que se rezavam missas também.
era uma missa comum, mas no final o padre fazia uma menção à memória da mariana.
à
memória da mariana! como assim, se ela estava ainda tão presente ali,
em mim pelo menos, naquela capela mesmo, sentada ao meu lado e
acreditando nas palavras de fé de um moço de batina branca? poderia ser
possível falar das memórias e das lembranças de alguém tão presente?
assim ele convocou aqueles que gostariam de dizer uma palavra em homenagem à ela.
subi no altar, acompanhada de uma outra amiga e achei que tudo não passava de um grande teatro.
afinal,
eu era atéia e não frequentava igrejas, ainda mais missas e que minha
dor seria vivida no isolamento do meu quarto frio daquela noite de maio.
mas de repente eu já estava lá, no altar e lia algumas palavras.
eu até falei de saudade, como se sua presença estivesse longe.
mas não, mas não.
era ela quem me segurava quando eu estava ali naquele altar, tremendo como se ardesse em febre, tonta como se doente estivesse.
queria congelar o tempo, disse, mas o tempo não pode voltar.
não havia mais retorno, à partir de um ponto não há mais retorno possível, diria kafka.
hoje
vejo que não consegui congelar nada, nem o tempo, porque este não pode
mais voltar, mas que reeditei em mim alguns pedaços dela, que agora me
compõem e me habitam.
e assim sigo.
miserável vida.
quarta-feira, 15 de maio de 2013
sexta-feira, 19 de abril de 2013
sentimental
Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
- Estás sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências, um cartaz amarelo:
"Nesse país é proibido sonhar."
Carlos Drummond de Andrade
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
- Estás sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências, um cartaz amarelo:
"Nesse país é proibido sonhar."
Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 3 de abril de 2013
quer virar francês?
para obter a nacionalidade francesa, você pode se casar com uma ou um (e que dure pelo menos três anos), morar há cinco anos no país ou ter filhos nascidos aqui.
nos três casos, o candidato deve atestar proficiência na língua além de passar, obrigatoriamente, por um teste de quinze questões de cultura geral: são quinze segundos para responder cada questão!
só não sabemos quantos pontos devemos obter, no mínimo!
quer tentar?
olha o link:
terça-feira, 2 de abril de 2013
La Borde
Em uma semana, me mudo para a clínica La Borde,
uma clínica psiquiátrica dirigida pelo lendário psicanalista e psiquiatra francês JeanOury, de 90 anos.
La Borde faz parte da história da reforma psiquiátrica:
fundada em 1954, trata-se de uma clínica que rejeita por completo os moldes e a
forma de tratamento oferecidos em hospitais psiquiátricos tradicionais.
Pacientes,
médicos, psicólogos, enfermeiros e estagiários convivem em um castelo no Vale
do Loire, onde realizam uma espécie de auto-gestão.
Existem reuniões em que todos decidem sobre o bom funcionamento da clínica, os horários das refeições, os dias de passeios, etc.
Todos ajudam na cozinha e na limpeza do local, visando sempre o bem comum. Sem hierarquia nem passividade.
Existem reuniões em que todos decidem sobre o bom funcionamento da clínica, os horários das refeições, os dias de passeios, etc.
Todos ajudam na cozinha e na limpeza do local, visando sempre o bem comum. Sem hierarquia nem passividade.
Adiciono uma foto do local e após dois meses de
uma experiência-aventura que começa semana que vem, volto pra dizer como foi!
sexta-feira, 29 de março de 2013
domingo, 10 de março de 2013
quando?
Quando é que você parou de dançar?
Quando é que você parou de cantar?
Quando é que você parou de acreditar?
Quando é que você parou de se encantar?
Quando é que você parou para silenciar?
Quando é que você parou de amar?
.
.
.
é preciso aprender com a primavera:
deixar-se cortar e voltar sempre inteira
Quando é que você parou de cantar?
Quando é que você parou de acreditar?
Quando é que você parou de se encantar?
Quando é que você parou para silenciar?
Quando é que você parou de amar?
.
.
.
é preciso aprender com a primavera:
deixar-se cortar e voltar sempre inteira
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
clarice lispector
Escrevo por não ter nada a fazer no mundo : sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.
Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
joão cabral de melo neto
o amor comeu os dias ainda não anunciados nas folhinhas.
comeu os minutos de adiantamento de meu relógio,
os anos que as linhas de minha mão asseguravam.
comeu o futuro grande atleta,
o futuro grande poeta.
comeu as futuras viagens em volta da terra,
as futuras estantes em volta da sala.
o amor comeu minha paz e minha guerra.
meu dia e minha noite.
meu inverno e meu verão.
comeu meu silêncio,
minha dor de cabeça,
meu medo da morte.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
julio cortázar
Aplastamiento de las gotas
Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío. Ahora aparece una gotita en lo alto del marco de la ventana; se queda temblequeando contra el cielo que la triza en mil brillos apagados, va creciendo y se tambalea, ya va a caer y no se cae, todavía no se cae. Está prendida con todas las uñas, no quiere caerse y se la ve que se agarra con los dientes, mientras le crece la barriga; ya es una gotaza que cuelga majestuosa, y de pronto zup, ahí va, plaf, deshecha, nada, una viscosidad en el mármol.
Pero las hay que se suicidan y se entregan enseguida, brotan en el marco y ahí mismo se tiran; me parece ver la vibración del salto, sus piernitas desprendiéndose y el grito que las emborracha en esa nada del caer y aniquilarse. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adiós gotas. Adiós.
http://www.youtube.com/watch?v=R52iNrFKUSw
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
clarice lispector
AINDA BEM QUE SEMPRE EXISTE OUTRO DIA
E OUTROS SONHOS
E OUTROS RISOS
E OUTRAS PESSOAS
E OUTRAS COISAS
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
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